Proteger os recursos hdricos do planeta est virando uma grande batalha ambiental. Ainda bem. Rios poludos, nascentes secando, consumo perdulrio indicam crise na chamada agenda azul. gua vida.
Cresce a conscincia da sociedade sobre a importncia da gua. Na Europa, especialmente na Espanha e em Portugal, o assunto tornou-se quase uma obsesso. Territrios desertificados, fruto da secular, e insensata, explorao humana da natureza, exigem extrema ateno das polticas pblicas. difcil, e oneroso, recuperar florestas, protetoras da gua.
As mudanas de clima trazem novo, e desastroso, componente na oferta hdrica para a humanidade. Muitas naes, com a ndia, dependem das geleiras das montanhas para garantir seu pleno fornecimento hdrico. E elas esto derretendo a olhos vistos. Que o diga o Himalaia.
No Brasil, a gesto dos recursos hdricos se fortalece, mas caminha lentamente. Avanam a proteo dos mananciais e a recuperao da biodiversidade, nas matas ciliares especialmente, mas o passo est curto diante da urgncia do problema.
Poucos Estados, So Paulo frente, fazem realmente funcionar seus comits de bacia hidrogrfica. A Agncia Nacional de guas (ANA), criada no governo de Fernando Henrique Cardoso, perdeu serventia aps ser politizada nos esquemas petistas. Uma lstima.
A dramaticidade do tema favoreceu o surgimento de um novo conceito: o da "gua virtual". Ele expressa uma contabilidade bsica, qual seja, a de determinar a quantidade de gua exigida no processo de fabricao de um produto. Isso avalia um custo ambiental.
Uma caneta ou um avio nada apresentam, visivelmente, de mido. Entretanto, qualquer mercadoria para ser fabricada demanda certo consumo de gua, em alguma fase da cadeia produtiva. Na indstria, as caldeiras movem-se pelo vapor, as quais acionam mquinas, derretem metais, moldam plsticos. Mveis inexistiriam sem a seiva das rvores, alimentadas pelas razes no solo molhado. Por a segue o raciocnio.
Calculando a quantidade de gua necessria, ou melhor, consumida na elaborao dos bens, pode-se comparar a eficincia dos processos produtivos. Vale na indstria como na agricultura, visando economia do recurso natural. Mais ainda: no comrcio internacional, transfere-se gua embutida nas mercadorias, elemento que poderia entrar no preo das exportaes e importaes. A rica teoria encanta ecologistas mundo afora.
Breve pesquisa na internet vai mostrar que o Brasil o 10. exportador mundial de "gua virtual", num comrcio que movimenta cerca de 1,2 trilho de litros do precioso lquido, disfarado nas mercadorias, sendo 67% desse volume relacionados com a venda de produtos agrcolas. Essa a grandeza planetria da equao.
Nmeros especficos chamam a ateno. Eles indicam que um quilo de carne bovina necessita de 15.500 litros de gua para chegar mesa; um quilo de arroz vale 3 mil litros; uma xcara de caf se iguala a 140 litros de gua. Surpreende a preciso. Segundo a organizao The Nature Conservancy (TNC), uma importante entidade ambientalista, so necessrios 10.777 litros de gua para fazer uma poro de chocolate, enquanto um carro exige 147.971 litros para ser construdo. Concluso: evite sobremesas e ande de bicicleta para ajudar o equilbrio da Terra.
Atraente, mas discutvel. O clculo desse fetiche ecolgico esconde um perigo, disfarado por pressupostos, estimativas e arbitragens que o distanciam da matemtica, uma cincia exata. Na linguagem popular, chuta-se muito. O grande problema reside na estimativa da quantidade de gua embutida nos alimentos. Invariavelmente uma brutal deformao pune a agricultura. Veja o porqu.
Vamos pegar o caso da carne. A conta acima da "gua virtual", alm do consumo na limpeza das instalaes em mquinas, na rao do cocho, na silagem, etc., considera tambm a quantidade de gua que o bicho bebe para ajudar a digesto e viver tranquilo. Acontece que um boi ingere pelo menos 30 litros/dia de gua. Ao final de trs anos, quando ser abatido, ter engolido 32.850 litros apenas para matar a sede.
Preste ateno: incluir tal consumo na conta da "gua virtual" somente estaria correto se o boi, ou sua senhora vaca, no fizessem xixi! Acontece que a urina dos animais, do homem inclusive, participa do ciclo da gua na natureza, matria elementar lecionada na quarta srie do ensino fundamental. Na escola as crianas aprendem que a gua assume formas variadas gasosa, slida e lquida - no sistema ecolgico do planeta. Assim, recicla-se naturalmente.
Paradoxalmente, o ciclo da gua, um dos conceitos fundamentais da ecologia, acabou esquecido pelos proponentes da "gua virtual". Um absurdo cientfico. Dizer que um cafezinho exige 140 litros de gua para ser produzido considera o volume de gua absorvido pelas razes da planta, esquecendo simplesmente a evapotranspirao que ocorre em suas folhas, sem a qual inexistiria a fotossntese. Vale para qualquer alimento.
Em 22 de maro se comemora o Dia Mundial da gua. Data para profunda reflexo. A crise ambiental do planeta afeta dramaticamente os recursos hdricos, afetando milhes de pessoas. Essa bandeira ambiental no pode ser desmoralizada por equvocos banais.
totalmente distinto gastar gua nos processos fabris, ou no resfriamento de reatores atmicos, de utiliz-la nos processos biolgicos vitais. Igual-los significa cometer erro crasso, estimulando um festival de bobagens que, no fundo, serve apenas para agredir o mundo rural. E livrar a barra dos setores urbano-industriais.
Na Pscoa coma chocolate sem culpa ambiental. Cuidado, isso sim, com a balana.
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